Um Falso Profeta já está em atuação

O literatura apocalípitica é um gênero literário que foi usado por João, a partir de Patmos, para ensinar a igreja cristã a suportar e enfrentar as perseguições. As suas simbologias e figuras, em maior parte, são uma forma de criptografia literária para impedir que mentes não cristãs a compreendessem. Somente alguém que conhece a história dos hebreus e os profetas do Velho Testamento, mais o ensino de Cristo e seus apóstolos, hoje o Novo Testamento, tem condições de compreender o que ali se transmite.

Entre as figuras presentes naquele texto, há a referência ao Falso Profeta – um ente que promovia o culto à Besta, um figura que reivindicava, em si, a confusão da natureza divina e humana, e que exigia culto como se fosse o próprio Deus. Trata-se a Besta de referência, naquele tempo, ao próprio Domiciano, o imperador perseguidor de cristãos e também judeus e que – diferente de seus congêneres que eram considerados deuses após a morte – antecipou tal beatitude para si enquanto ainda era vivo.

O Falso Profeta, que segundo o texto do apocalipse joanino promovia o culto da Besta, é a Concilia Romana, o aparato imperial que propagava, fomentava e articulava o culto ao Imperador em todas as províncias e territórios romanos. Ela é que submeteu as licenças de comércio do Império ao culto ao Imperador, fato registrado no Apocalipse com o número 666 – uma referência à apostasia salomônica (1 Reis 10.14), em que o mais sábio rei hebreu, já velho, apostatou da sua religião para ficar de boas com as nações à sua volta. Com certeza um judeu e um cristão de extração judaica entenderiam a mensagem – é que o comerciante do tempo de Domiciano tinha que tatuar a licença de sua guilda na mão ou testa, ou ter seu nome em coluna erguida em templo de adoração ao imperador, dentre outros distintivos, e muitos cristãos fizeram isso, abandonando a fé por causa da perseguição econômica. Por isso que nas epístolas mais tardias (do tempo de Domiciano) não há menção a cristãos comerciantes ou militares.

Alguma dimensão do Apocalipse esteve presente em toda história da igreja – seja a dimensão da apostasia, do martírio, da esperança – pois em todo tempo a igreja sofre uma perseguição – interna ou externa. Algumas vezes há estruturas para perseguí-las, noutras apenas indivíduos; algumas vezes a apostasia ou martirio é pontual, noutras é sistêmico – mas sempre há a esperança. Para além de uma profecia de dupla referência, o texto apocalipitico é como uma elipse ascendente, que vai enquadrando os diversos contextos de martirio e apostasia da igreja apesar de omissões quanto ao futuro, trazendo o real sentido que Deus quer que sua igreja tenha desses eventos. Haverá um apocalipse final, mas a história, até lá, não pode escapar de ser enquadrada nas perspectivas profetizadas por João, em Patmos.

O que João nos fala para hoje é que há uma estrutura no século XXI, que guardadas as proporções, equivale à Concilia Romana. A cerimônia de abertura dos jogos olímpicos de Paris e tudo o que foi ali encenado – falo dos ataques à Cristandade – mais os ataques similares que ocorreram no show da cantora madonna na praia de Copacabana e outros que ocorrem continua e esparsamente – mas num crescendo – perpetrados pela indústria cultural, indicam que há um estrutura montada para promover um certo culto e reprimir os cristãos. Os efeitos do trabalho desse Falso Profeta já se fazem surgir em nosso meio, com o surgimento de Balaões e Jezabéis (entes apocalipticos que tentavam acomodar o cristianismo ao culto de Domiciano). Não é possível deixar de lembrar, nesse contexto, de gente como Kivits, Ariovaldo, Caio Fábio e outros.

Não se pode afirmar que tudo isso indica o apocalise derradeiro – mas é com certeza um tipo de apocalipse. A se desenrolar a tríade persecutória do Apocalipse, ao Falso Profeta farão companhia estruturas religiosas e políticas que buscarão se impor globalmente. Nós já a vislumbramos.

Esta é uma pequena leitura dos últimos acontecimentos a partir de uma perspectiva preterista parcial da doutrina dos últimos dias. Nela, só falta Jesus voltar.

Carlos Magalhães

Presbítero da Igreja Presbiteriana do Bairro Imperial

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