Antecipação da Luz Prometida

“— Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel e à casa de Judá. Naqueles dias e naquele tempo, farei brotar a Davi um Renovo de justiça, e ele executará o juízo e a justiça na terra. Naqueles dias, Judá será salvo e Jerusalém habitará em segurança; ela será chamada “Senhor, Justiça Nossa”.” (Jeremias 33.14-16).

O primeiro domingo do Advento marca o início de um período de expectativa e preparação na tradição cristã em geral, e, em particular, na tradição protestante reformada, um tempo de reflexão profunda sobre a verdade cristã e a chegada do Salvador, Jesus Cristo. Neste contexto, o texto do profeta Jeremias 33.14-16 nos serve como um guia inspirador para meditar sobre a promessa divina e sua realização na encarnação do Verbo.

Jeremias, conhecido como o profeta da esperança, anuncia a vinda do Messias como uma realidade que transcende as circunstâncias imediatas. Em meio à escuridão do cativeiro babilônico, ele aponta para um amanhã resplandecente, quando a justiça e a retidão seriam estabelecidas sobre a terra, algo que ele somente poderia crer pela fé nas promessas divinas. Este é o ponto de partida para nossa reflexão neste Advento: a promessa de Deus como uma luz a guiar nossos passos mesmo nas sombras mais densas.

A tradição reformada destaca a centralidade da Escritura como fonte de autoridade e direção. Assim, ao contemplarmos esse trecho de Jeremias e sua profunda conexão com o que ele já tinha anunciado em 23.5-6, somos lembrados de que a Palavra de Deus é um farol em nossa jornada espiritual. A promessa de um Renovo Justo, um descendente de Davi, ecoa ao longo das páginas bíblicas, crescendo em intensidade até encontrar seu cumprimento em Jesus Cristo. O Advento nos convida a mergulhar nas Escrituras, aprofundando nossa compreensão da promessa divina e fortalecendo nossa fé na sua realização.

A verdade cristã, encapsulada na promessa do Messias, resplandece com raios de esperança. A cada vela acesa no Advento, testemunhamos o avanço gradual da luz que brilha nas trevas. A encarnação de Cristo é o ápice dessa luz, irradiando graça, verdade e redenção sobre um mundo necessitado de Deus e de sua resposta ao vazio e à escuridão da alma humana sem o Salvador. O Advento, assim, não é apenas uma contagem regressiva para o Natal, mas um convite a contemplar a revelação da verdade divina na pessoa de Jesus.

Jeremias enfatiza que o Renovo Justo trará consigo justiça e retidão. Esta não é apenas uma justiça externa, mas uma transformação profunda que impacta cada aspecto da vida. O nascimento de Jesus inaugura um novo tempo em que a reconciliação entre Deus e a humanidade é possível, mas somente através daquele cujo nascimento se anunciava profeticamente e que, um dia, no tempo e no espaço, nasceu entre nós. O Advento nos lembra da necessidade de refletir essa justiça divina em nossas vidas diárias, tornando-nos agentes de reconciliação em um mundo fragmentado e sem Deus.

A tradição reformada, enraizada na teologia da graça, destaca a soberania de Deus na obra da redenção. No Advento, celebramos não apenas a promessa cumprida, mas o amor de Deus manifestado na dádiva do seu Filho. A encarnação é o ápice da graça divina, onde Deus, de maneira insondável, se faz carne para habitar entre nós. Este é um mistério que transcende nossa compreensão, convidando-nos a contemplar a magnitude do amor divino revelado na encarnação.

Ao considerarmos o Advento à luz da tradição reformada, somos desafiados a viver de maneira que reflita a realidade da encarnação. Assim como Cristo veio para habitar entre nós, somos chamados a ser a presença de Cristo no mundo. O amor encarnado em Jesus não pode permanecer confinado à manjedoura; deve ser vivido e compartilhado em nossa comunidade e além.

Neste primeiro domingo do Advento, somos convidados a mergulhar na profundidade da promessa divina, a deixar que a luz da verdade cristã ilumine nossos corações e a abraçar a responsabilidade de viver como portadores da graça encarnada. Que a contemplação da promessa cumprida em Jesus Cristo inspire uma renovada dedicação à justiça, à retidão e à vivência da graça na comunidade cristã e no mundo ao nosso redor. Que cada vela acesa na Coroa do Advento seja mais do que um símbolo; que seja uma chama que queime em nossas vidas, testemunhando ao mundo a luz da esperança que encontramos no Salvador, cujo nascimento celebramos neste Advento.

Joel Theodoro

É pastor efetivo da Ig. Presbiteriana do Bairro Imperial, no Rio de Janeiro, RJ. Integra o ministério Charles Simeon Trust no Brasil e é docente nos seminários Martin Bucer (SP) e SETECEB (Anápolis) e na Faculdade Presbiteriana Mackenzie-Rio. Bacharel em Letras (UFRJ), em Filosofia (CETAI) e em Teologia (Filadélfia). Mestre em Ciência da Literatura (UFRJ), Doutor em Ministério (RTS/CPAJ) e Doutorando em Letras Clássicas (Estudos Interdisciplinares da Antiguidade, UFRJ). Casado há 30 anos com Roberta, é pai de Gabriel e Rafaela.

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