Quando o apóstolo Paulo estava escrevendo aos irmãos da Igreja de Éfeso, ele soltou uma frase bastante emblemática. Ele disse, enquanto falava de santidade como algo oposto à ruptura da vida cristã como deveria ser de fato. Ele diz: “não foi assim que vocês aprenderam de Cristo” (Ef 4.20). Quando olhamos uma sentença dessas, precisamos nos perguntar o que realmente temos aprendido de Cristo, pois isso faz toda a diferença. Acima de tudo, sabemos ser impossível andar sobre uma corda bamba quando se trata do senhorio de Cristo, razão pela qual temos a noção clara de não podermos servir a dois senhores, como no caso em que Jesus diz que não se pode servir a Deus e ao dinheiro, neste caso como um outro senhor (Mt 6.24).
Quando voltamos à frase de Paulo precisamos notar claramente que a verdade de Cristo não está sendo construída, mas ela é eterna e permanente, queira ou não o ser humano reconhecer isso. Aquele que está sob a orientação de Cristo e vive debaixo de sua sombra é alguém que estava totalmente longe de Deus, mas que num determinado momento de sua vida ouviu o chamado divino e mudou totalmente o rumo de sua existência. Sabemos pela Escritura que isso transforma a vida por completo e essa pessoa começa a fazer o que a vontade de Deus determina para ela. O mesmo Paulo fala disso em Rm 12.2: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Isso gera uma perspectiva imediata ao convertido, que é a de não querer mais saber do “padrão deste mundo”, ou seja, nada que procede do mundo e que é contrário a Cristo deve ser preservado no coração do cristão verdadeiro. Costumes, práticas, ideias, ideologias, o que é “politicamente correto”, opiniões e gostos: tudo que é “padrão deste mundo” e que Cristo não nos ordena fazer deve ser banido do coração do cristão verdadeiro.
Isso se dá porque aquele que sai do mundo e passa para o lado de Cristo tem a sua mente renovada, ou seja, os velhos conceitos e hábitos ficam para trás e ele passa a pensar de uma nova maneira, como Cristo, não mais como o mundo. Paulo expressa isso ao dizer “vocês ouviram falar dele, e nele foram ensinados de acordo com a verdade que está em Jesus” (Ef 4.21). A pessoa que ouve falar de Cristo e é instruída na verdade não tem a possibilidade de se manter nos hábitos do velho homem por causa da renovação da forma de pensar. Em outras palavras, não é possível conhecer Cristo e a verdade e não mudar o modo de pensar. Portanto, se você pensa como o mundo pensa e acha que é cristão, está se enganando e perdendo tempo: é preciso que a sua mente realmente seja mudada pelo poder de Cristo e que você passe a pensar como cristão.
Paulo prossegue explicando que, quanto “à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.” (Ef 4.22-24). Em outras palavras, Paulo dá a receita para alguém saber se está em Cristo ou se está no mundo: 1) se os velhos hábitos, o velho modo de pensar, as velhas opiniões, a velha “maneira de viver” foi abandonada e a pessoa está crescendo em graça diante de Cristo, absorvendo seus ensinamentos, essa pessoa está em Cristo; se ainda mantém apreço por essas coisas, achando que pode juntar em seu coração o ensino de Cristo e o ensino do mundo, essa pessoa está no mundo, pois é alguém corrompido por “desejos enganosos”; 2) ao mesmo tempo em que Paulo diz que a pessoa deve se despir (tirar a roupa) de velha criatura, de alguém que não conhecia a verdade de Cristo, ele manda que a pessoa se revista (ponha a roupa) do novo homem proveniente da verdade que é Cristo, daquilo que Deus, em Cristo, pela ação do Espírito Santo, ordena aos seus filhos como prática de vida: se alguém tem seu modo de pensar transformado e é revestido como novo homem, essa pessoa é alguém que vive para “ser semelhante a Deus em justiça e em santidade”, e isso tudo vindo da verdade, essa pessoa estará em Cristo; se a pessoa não se reveste assim, não terá como ter seu modo de pensar transformado e não será semelhante a Deus, não será santa e praticará apenas uma justiça que não vem da parte de Cristo, a justiça do mundo em lugar da justiça de Cristo: essa pessoa estará no mundo e não em Cristo.
Como andam nossos pensamentos? Como anda a nossa vontade? Nossa espiritualidade nos torna alguém “semelhante a Deus”? Dizemos que nos despimos do passado e suas opiniões, mas será que ainda mantemos amizade com as opiniões do mundo? Estamos muito preocupados com o “politicamente correto”? Diante das questões de gênero, somos mundo ou somos Cristo? Diante da corrupção, somos mundo ou somos Cristo? Diante dos embates da família, somos mundo ou somos Cristo? Diante das querelas da ideologia, somos mundo ou somos Cristo? Diante de temas como casamento, feminismo, minorias, violência, punição social: somos mundo ou somos Cristo? Enfim, sabendo que a Escritura nos fala de tudo isso, o que abraçamos como verdade é o que a Escritura nos diz, ou o que os professores, chefes, grupos sociais ou a mídia nos dizem? Está em cada coração a capacidade de responder todas essas questões. Encerro convidando esta igreja a pensar com base na Escritura e em nada mais, como nos sugere o título de um livro de John Stott: “crer é também pensar”. Então: onde está você… Em Cristo ou no mundo?