Porque sonhamos? Uma das coisas mais intrigantes quando nos vemos diante dos avanços da ciência e da sociedade em geral é o bom e velho sonho. Intrigante porque ninguém consegue desvendá-lo por completo, dar-lhe explicações isentas e confiáveis, ou mesmo conseguir simplesmente não ficar estonteado diante do acordar após alguns tipos de sonho. Esse é o sonho natural, muitas vezes tido por aviso ou por elemento divinatório transcendente. Mas há um outro sonho, o sonho na alma, o sonho do ser. Esse, via de regra, se sonha acordado, enquanto se pensa e se viaja pelos escondidos do interior do coração. É sobre esse tipo de sonho que compartilho com vocês agora.
De todas as espécies e seres vivos, talvez muitas outras sonhem, Aliás, parece se comprovar que em muitos casos, sim. Falo do primeiro sonho, o natural. Mas é privativo do ser humano o sonhar com a alma, privilégio de quem foi feito “alma vivente”, coisa em que eu creio, mesmo em tempos que se comemoram os termos finais dessa fé, suplantada pelos mais inteligentes seres de nossa raça, exatamente os que não mais sonham. Só sonha na alma o que tem alma. Quem não aceita sonhar na alma apenas se diz um planejador ou regulamentador de suas descobertas, mesmo que ainda sejam especulações. O que seria do homem sem sonhar na alma? O que seria da raça sem sonhar com o coração? O que será da raça se a maioria de seus representantes deixar de sonhar e se puser a planejar e regulamentar com a razão apenas? Sem sonhar, onde estariam os poetas? Os artistas? Os homens de bem?
Avanço, passando por esse sonhar quase onírico, em direção a outro sonho, somente possível ao que sonha na alma: é o sonho em Deus. Esse é um sonho diferente e especial, surgido não pelo dormir quieto ou mesmo por nossa capacidade de divagar pelo transcendente. O sonhar em Deus vai além, pois é fruto da inoculação desse sonho em nossa alma. Sim, na mesma alma que também sonha de nós mesmos. É ali que Deus nos finca desejos incríveis. É ali que Deus nos fala no silêncio de nossos pensamentos. É ali que Deus se mostra a nós de maneira especial. É ali que Deus nos faz sonhar sonhos que não teríamos naturalmente. Pois é ali que Deus trabalha em nós e de onde haverá de tirar proveito para atingir seus santos objetivos.
Sonhar em Deus pode ser estranho. Pode ser diferente, pois compartilha nossos próprios sonhos e, por vezes, pede a nós o espaço dos mesmos. Mas sonhar em Deus é gostoso e faz bem ao coração, dá alegria à face e mostra como é deleitoso andar com ele. Sim, de nossa simplicidade de vida com Deus podemos extrair coisas bastante profundas. Basta sonhar em Deus. Basta querer se dispor a ele.
O capítulo 37 de Gênesis conta que José sonhou um sonho assim, ao começar com “teve José um sonho…” (v. 5). Profético sonho de José. Não ficou assustado, mas assustou todos ao redor, inclusive seu pai que tanto o amava. Por causa disso, e de ele ter lhes contado seu sonho, seus irmãos “o odiaram ainda mais” (v. 5). Mas, sendo sonho em Deus, cumpriu-se no devido tempo, deu sua mostra de verdade e deu seu fruto. Para isso, José teve que enfrentar muitas dificuldades e percalços. Mas os fatos lhe mostraram ser mesmo sonho em Deus.
Finalizando, há apenas uma grande diferença entre nossos sonhos na alma e os sonhos em Deus, também na alma: os primeiros são gerados por nós. Podem ser lícitos e bons, mas sujeitos às circunstâncias. Os últimos, são gerados por Deus e certamente se cumprirão. Mesmo que muita coisa aconteça, eles se cumprirão. Por quê? Porque os sonhos em Deus são a verdade promulgada por Deus e dada a nós apenas como meio de sua concretização. O sonho em Deus é, realmente, um sonho gerado por Deus para a glória dele próprio.
Minha oração é que você sonhe. E muito. Sonhe muito na alma. Sonhe mais ainda em Deus. E, no devido tempo, você verá a realização dos seus sonhos e, mais, o cumprimento dos sonhos que Deus pôs em você. Mesmo diante de percalços e circunstâncias desfavoráveis, retornos e desvios, covas e prisões, traições e desmandos – assim como foi com José – você chegará ao ponto de ver seus sonhos concretizados.