O mundo moderno e a cosmovisão cristã

Irmãos, antes de tudo, vamos a alguns esclarecimentos iniciais importantes para o bom entendimento do texto aqui proposto!

Quando utilizei a expressão “mundo moderno”, o intuito foi de fazer referência à cultura e às ideologias que permeiam o presente século em um aspecto de contradição às leis morais do Deus da bíblia.

Já por cosmovisão, entenda como a maneira que uma pessoa tem de enxergar o mundo, a sua forma de interpretá-lo, de responder a grandes questionamentos, tais como: Como e por que o mundo foi formado? De onde viemos? Qual nosso propósito de vida? Para onde iremos? Há vida após a morte? Assim, a resposta que cada indivíduo tem acerca dos questionamentos utilizados como exemplo forma a sua visão de mundo ou a sua cosmovisão.

Ainda, conforme expõe o Professor Felipe Fontes, escritor e teólogo dos Sistemas de Ensino Mackenzie: “A cosmovisão cristã não é apenas um conjunto de ideias, mas é, antes de qualquer coisa, um conjunto de verdades com as quais estamos comprometidos. Por isso, é fácil vê-la na forma como vivemos e não só no que entendemos como verdade. Porque ela transcende a teoria”.

Agora sim! Prossigamos com o nosso texto…

Caro leitor, é consenso que nunca fora vivenciada uma era como a que é presenciada atualmente. Uma “contemporaneidade” em que os laços sociais são permeados por um tipo de aproximação cada vez mais distante, resultado de um mundo que surfa em uma curva de crescimento exponencial de tecnologia e virtualidade. O surgimento de tantas ideologias e de uma fragmentação desenfreada da sociedade em grupos tão ecléticos avançam no intuito de “acinzentar”, como se retrógrados fossem, os conceitos tradicionais de família, casamento, liberdade de expressão, liberdade religiosa, etc. É o progresso daquilo que podemos chamar de marxismo cultural.

Ressalta-se, ademais, que Ideologias tais como o secularismo parecem refletir gradativamente mais a imagem de um mundo moderno, ou seja, a ideia de restringir os assuntos relacionados à fé somente à vida privada não devendo abranger a “vida real” (o trabalho, a educação, a vida pública) ou não considerar Deus e seus princípios no convívio em sociedade nem na constituição das normas que regem suas relações torna-se paulatinamente mais conveniente a uma humanidade caída e afetada pela depravação total, fruto do pecado original.

Pode-se perceber claramente, no mundo contemporâneo, uma ojeriza cada vez maior aos princípios éticos e morais estabelecidos pelo Deus da bíblia. Tomemos como exemplo decisões, adotadas por diversos países, como as de tornar legais a prática do aborto, o uso recreativo de entorpecentes, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, entre outros. Isso é uma evidência de uma declarada rebelião contra as Leis de Deus!

Nesse contexto, querido irmão, me permita levar-lhe a uma reflexão!

Admitamos estar inseridos em uma cultura obscura que prega o abandono dos princípios do Senhor somado a um fomento à relativização do conceito de moral defendido pelas sagradas escrituras, o que agressivamente tem afetado pilares vitais da sociedade com a educação, a política, a família, por exemplo. Reconheçamos, ainda, que sociedade e indivíduo interagem e influenciam-se mutuamente, ou seja, o meio em conjunto com os valores que o predominam podem potencializar determinados traços de personalidade das pessoas.

Sendo assim e tendo em vista a contextualização que lhe apresentei nas linhas acima sobre os valores e ideologias que permeiam a cultura dos dias atuais, a pergunta que lhe desejo fazer é a seguinte: Poderia o mundo moderno exercer influência sobre a cosmovisão cristã?

Querido irmão, questionar-nos sobre nossa identidade, ou seja, refletir sobre os valores que são o cerne de nosso modo de viver, pensar, falar e a mensagem que transmitimos aos que nos cercam, é algo que as sagradas escrituras encorajam-nos a fazer minuciosa e constantemente como premissa de uma vida solidificada na verdade de Deus, conforme está escrito em 2 Coríntios 13:5: “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados”.

Destarte, amigo leitor, o autoexame deve fazer parte do cotidiano do cristão verdadeiro e essa prática de examinar os próprios atos tendo como parâmetro a bíblia sagrada é o meio de demonstrar quem nós somos, de que forma estamos vivendo o evangelho, se estamos sendo, pouco a pouco, influenciados pela cultura obscura circundante no mundo moderno.

Façamos uma pausa para uma proposta de interação. Lanço um desafio aos nossos corações!

Quero que consideremos os seguintes questionamentos como forma de perquirir o que permeia nossa cosmovisão cristã:

  • O que mais se sobressairia em nossa personalidade se nossos colegas, amigos e familiares pudessem descrevê-la (engraçado, irado, murmurador, altruísta, etc.)?
  • Quantos dos nossos amigos já ouviram o evangelho através de nós?
  • Com qual frequência temos orado?
  • Quanto tempo temos gastado estudando as escrituras diariamente?
  • Em uma roda de amigos, colegas de trabalho ou familiares, qual o assunto predomina nossas conversas (futebol, política, humor, evangelho, etc.)?

Amigo leitor, meu objetivo com o desafio acima é dizer que, por mais óbvio que pareça, o cristianismo não pode fazer parte somente do ambiente religioso ao qual estamos inseridos e, isso, entretanto, não parece ser uma preocupação de grande parcela dos que dizem seguir a Jesus Cristo. Ou seja, muitos de nós estão permitindo restringir a fé exclusivamente aos locais de culto em uma igreja, agindo como se o evangelho não devesse alcançar as demais áreas da nossa vida, tais como o trabalho, a faculdade ou escola, o ambiente familiar, entre outros. E, infelizmente, podemos afirmar que boa parte dos cristãos deste mundo moderno agem como se pagãos fossem.

Isso é perceptível no modo como se comportam diante da sociedade. Xingam, embriagam-se, assistem programas imorais, são lascivos, praticam imoralidade sexual, pervertem a palavra do Deus vivo.

Mas esse comportamento não é compatível com o que as escrituras exortam-nos a viver, conforme escreve o apóstolo de Cristo em Romanos 12:1-2: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”.

Apenas para fins de contextualização, vale ressaltar que em capítulo precedente ao supracitado, é descrito o poder da graça de Cristo alcançando pecadores arrependidos e crentes em Jesus, os que foram justificados pelo precioso sangue do Cordeiro de Deus: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3:23-26).

E, agora, já no décimo segundo capítulo do livro aos Romanos, Paulo está nos convocando a viver uma vida prática de cristianismo pós justificação pela fé. O comportamento requerido pelo apóstolo sugere uma abrangência muito maior do que uma fé restrita às práticas litúrgicas. As evidências de uma verdadeira transformação mediante à preciosa graça na vida do fiel seguidor do Senhor são uma mente renovada pelo Espírito Santo e uma inconformidade com o secularismo do presente século.

Considere que, à época dessa epístola, Roma era uma cidade predominantemente marcada por um sistema religioso pagão. A idolatria, o homossexualismo, a lascívia, a ganância, os vícios, a maldade, a perversidade, entre outras práticas pecaminosas, eram traços patentes da cultura romana. E, é nesse contexto histórico que Paulo escreve aos gentios alcançados pela graça redentora desafiando-os a não se deixassem ser moldados pela promiscuidade da capital italiana.

Atentemo-nos para o fato de que a mensagem enviada aos cristãos romanos é perfeitamente aplicável aos nosso dias!

Querido Irmão, reflita comigo!

Se a nossa mente, coração e personalidade fossem blindados ou inalcançáveis pelos valores obscuros presentes no mundo só pelo simples fatos de nos declararmos cristãos, com qual intuito Paulo escreveria uma série de “alertas” quanto à cautela que devemos ter para não nos amoldarmos ao ambiente em que estamos inseridos?

Lembrem-se de que ao defender seu apostolado e também a veracidade da ressurreição de Cristo e da salvação dos que no Cordeiro de Deus creem, em 1 Coríntios 15, Paulo, no verso 33, ressalta: “Não se deixem enganar: As más companhias corrompem os bons costumes”.

Chamou-me, também, bastante à atenção, no capítulo 10 da carta ao povo de Corinto, a maneira como o apóstolo elenca uma lista de avisos ao povo de Deus tomando como exemplo os pecados cometidos pelo povo de Israel ao atravessar o deserto rumo à terra prometida (1 Coríntios 10:6-10):

“Essas coisas ocorreram como exemplos para nós, para que não cobicemos coisas más, como eles fizeram. Não sejam idólatras, como alguns deles foram, conforme está escrito: “O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra”. Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram e num só dia morreram vinte e três mil. Não devemos pôr o Senhor à prova, como alguns deles fizeram e foram mortos por serpentes. E não se queixem, como alguns deles se queixaram e foram mortos pelo anjo destruidor”.

E, para mim, o ápice dessa passagem está nos versos 11 e 12: “Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos. Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!”.

Amigos, recordem-se de que o povo de Deus viveu por muitos anos debaixo de um regime de escravidão no Egito tendo de conviver com uma cultura totalmente pagã e obviamente contrária aos princípios do Senhor. Sendo assim, muitos dos Israelitas permitiram que seus corações fossem infiltrados por práticas abomináveis aos olhos de Deus, o que culminaria mais a frente numa “rebelião” contra a fé bíblica, revelada durante a travessia do deserto.

Nesse contexto e parafraseando o que foi dito por Paulo, digo: Cuidado! Vocês podem tropeçar assim como o povo de Israel tropeçou, pois a sua cosmovisão pode sim ser contaminada pelo ambiente no qual vocês estavam ou estão inseridos!

Por isso, não sejamos como alguns que interpretando de maneira vil a eleição, dizendo “uma vez salvo sempre salvo”, abusam da graça de Deus, transformando a santa liberdade que têm em Cristo em uma libertinagem que resulta em uma imagem vexatória do evangelho.

Por fim, como forma de despertar em nossos corações prudência e diligência em toda nossa forma de viver, concluo este breve texto transcrevendo o trecho de 1 Pedro 5:8-10:

“Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar. Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé, sabendo que os irmãos que vocês têm em todo o mundo estão passando pelos mesmos sofrimentos. O Deus de toda a graça, que os chamou para a sua glória eterna em Cristo Jesus, depois de terem sofrido por pouco tempo, os restaurará, os confirmará, os fortalecerá e os porá sobre firmes alicerces”.


FONTES DE PESQUISA:
https://ministeriofiel.com.br/artigos/secularismo-em-todos-os-lugares/
https://ministeriofiel.com.br/artigos/examinai-vos-a-vos-mesmos/
https://dansimoncelos.wordpress.com/2018/01/23/romanos-12-1-2/
https://blog.mackenzie.br/mackenzie-para-escolas/praticas-pedagogicas/o-que-caracterizauma-visao-de-mundo-crista/
MARXISMO CULTURAL. EBD IPBI 2022. https://www.youtube.com/watch?v=3N7HeOfTJgk
Poythress, Vern S. O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, em toda vida e de todo o nosso coração. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2019. 250 p.

Lucas Mata

É membro e auxiliar de diaconia na Ig. Presbiteriana do Bairro Imperial, no Rio de Janeiro, RJ. Bacharel em Administração de Empresas (Universidade Estácio de Sá) e pós-graduado em Contabilidade e Finanças (Faculdade Focus). Casado há 5 anos com Thamy, é pai de Tiago.

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