De alguns anos para cá tivemos uma grande profusão de comemorações: cada dia guarda vários significados e homenageia várias pessoas, santos, instituições e coisas variadas. Mudando de lugar no mundo, certamente isso é ampliado, pois às comemorações de ordem universal, somam-se as de ordem local. Até no mesmo país é assim: há comemorações que se fazem em nossa cidade ou estado que sequer se noticiam no restante do país. Algumas delas são pelo menos inusitadas, como o Dia do Fusca (20/01), o Dia da Baiana do Acarajé (25/11), o Dia do Cantor de Música Sertaneja (13/07) e, pasme você, até mesmo o Dia da Tia Solteirona (25/09). Esta semana que passou tivemos mais uma data comemorativa: o Dia do Amigo. Dizem que a data começou a ser comemorada aos 20 de julho de 1999, quando um argentino, Enrique Febbraro (1924-2008), entendeu que a data da chegada do homem à Lua (20/07/1969) representava a amizade entre todos os povos: a data se consolidou e hoje se comemora quase no mundo todo, mas, na Argentina, como verdadeira febre nacional.
Mas, infelizmente, esse tipo de amizade não passa de comemoração institucionalizada. Amizade verdadeira mesmo, sabemos, é difícil de ser cultivada. A pensadora e escritora norte-americana Susan Eloise Hinton (1948- ) disse certa vez que “se você tiver dois amigos durante sua vida, você tem sorte. Se você tiver um bom amigo, você tem mais do que sorte”, ao passo que sua compatriota, a escritora de livros infantis Louisa May Alcott (1832-1888), disse que “bons livros são como bons amigos: são poucos e estão todos escolhidos”. Com tudo que se diz sobre amigos e o paradoxo entre sua imperiosa necessidade e a sua quase impossibilidade de os ter, parece que entramos num beco do qual não há saída. Sabemos, por experiência própria, da tremenda dificuldade em conseguirmos bons amigos que se sustentem como tais até o final da vida. Nada disso é distante daquilo que o sábio deixou registrado, quando disse que “quem tem muitos amigos pode chegar à ruína, mas existe amigo mais apegado que um irmão” (Provérbios 18.24), o que corrobora a ideia de que não conseguimos muitos amigos e, se os tivermos por perto, não serão verdadeiros.
Descobrimos, então, que é possível termos amigos, que os verdadeiros são poucos e que eles enfrentam as dificuldades ao nosso lado. Por inferência, devemos entender que se a amizade verdadeira é tão importante, cabe a cada um de nós dispor sua vida para servir aos demais como amigo verdadeiro. E quanto a nossa relação com Deus? A Escritura nos diz, sem meias palavras, quem não podem ser amigo de Deus: todos aqueles que são “egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder.” (2Timóteo 3.2-5). Ao mesmo tempo, vejamos o que a Escritura nos dá as palavras de Jesus, que diz: “O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu os amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. Vocês serão meus amigos, se fizerem o que eu lhes ordeno. Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido.” (João 15.12-15).
Voltando ao princípio de nossas reflexões, aplicamos as seguintes verdades à nossa caminhada cristã: não poderemos, jamais, trair a amizade proposta por Deus para nós, o que faríamos se nos tornássemos como aqueles descritos em 2Timóteo 3.2-5. Pelo contrário, devemos aceitar o chamado perfeito do Senhor que nos chama para sermos seus amigos verdadeiros, sendo ele próprio o maior, melhor e mais verdadeiro amigo que podemos ter que, sendo nosso Senhor, resolveu nos tratar como amigos, aos quais revela seus planos, aos quais trata com bondade e amor, o maior amor possível, que o amor da entrega absoluta. É, portanto, possível termos amigos, mas é fundamental termos o Amigo ideal e perfeito que haverá de nos acompanhar para sempre, não importando se nos faltarem outros amigos, humanos, na caminhada. Além disso, o Amigo perfeito haverá de nos acompanhar e nos fazer vencer todas as dificuldades naturais, por meios comuns ou extraordinários, uma vez que tem um compromisso firmado com cada um de nós. Para isso, precisamos apenas crer em Deus como Senhor único e suficiente, como fez Abraão, e isso nos será tido por justiça (Tiago 2.22). Ademais disso, é preciso amar-nos uns aos outros, o que será demonstração de nossa filiação e amizade com Deus (João 15.12-15). Deus é nosso amigo, diante do qual, com tamanhas bênçãos, só nos resta perguntar: que amigo é esse?