Sola Gratia

Somente a Graça 

“Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2.4-10)   

Todas as expressões de fé pensam na salvação de algum modo. Sempre se pensa no que vem depois da morte, o que faz com que as pessoas tenham se voltado geração após geração a buscar as respostas transcendentes para a vida e a morte. Nesse ponto entra a questão do porvir, o que se relaciona diretamente com a salvação em algum grau e forma. As religiões pensam nisso por dois caminhos: a pessoa pode ser salva por seus próprios méritos ou pela graça. Isso quer dizer que os méritos para a salvação ou são pessoais ou de Deus. O cristianismo entende que a salvação depende exclusivamente de Deus. Os cristãos reformados, como nós, presbiterianos, creem que a salvação é algo tão exclusivo de Deus que ele nos salva pelos atos dele, sem a nossa ajuda, o que chamamos de monergismo. Há irmãos que creem numa parcela de ajuda do ser humano, embora a salvação seja sempre efetuada por Deus, ao que chamamos de sinergismo. Mas o que está na base de todo o pensamento cristão, seja monergista ou sinergista, é que a salvação ocorre por graça, ou seja, é algo que não fazia parte dos merecimentos humanos e que Deus o faz porque quer fazê-lo, dando-nos gratuitamente o dom que conduz à redenção e isso tem uma razão: para que a glória permaneça para Deus e não a ponhamos sobre nós (cf. Efésios 2.8).  

Com isso aprendemos que a causa eficiente pela qual somos salvos é unicamente a graça de Deus, o que tira a possibilidade de salvação por outros meios ou outras divindades. Menos ainda as obras que possamos produzir, por boas e lícitas que sejam. Em outras palavras, entendemos pela Escritura que as obras que agradam a Deus são a consequência de sermos salvos e transformados, de tal sorte que as nossas ações e atitudes glorifiquem a Deus. Aqueles que creem que as obras podem salvar ou mesmo colaborar com a salvação estão, em alguma medida, mesmo que sem querer, considerando comprar o favor de Deus. Paulo nos deixa isso muito claro em Romanos 11.61

De fato, a graça perpassa todo o processo de nossa salvação. Vejamos que a própria eleição é pela graça, como está escrito para nós também por Paulo, ao dizer que assim “pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça.”2, o que está confirmado pela Confissão de Fé de Westminster:  

Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa.3 

Da mesma forma, no processo da salvação, a justificação e o perdão de nossos pecados são fruto da graça de Deus, como vemos em Romanos 3.244 e Efésios 1.75, este último referindo-se ao Amado (Jesus Cristo). É nessa graça maravilhosa que estamos firmes até o final (cf. Romanos 5.26). Por causa dela somos conduzidos a perseverar até aquele dia em que estaremos diante do Senhor para todo o sempre. Para tal, a nossa caminhada deve ser uma jornada de crescimento, o que também é envolto na graça de Deus, como Pedro nos diz: “crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo7” e é por causa dessa mesma graça que seremos conduzidos em segurança até a revelação plena de nossa salvação8. Aqui também temos a confirmação de nosso símbolo de fé ao lermos que “Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem decair do estado da graça, nem total, nem finalmente; mas, com toda a certeza hão de perseverar nesse estado até o fim e serão eternamente salvos.”9 

Ora, pela graça Deus nos elegeu, chamou, salvou, nos faz perseverar e nos fará chegar até ao final de nossa caminhada, preservados no Senhor para honra e glória de seu próprio nome. 

Joel Theodoro

É pastor efetivo da Ig. Presbiteriana do Bairro Imperial, no Rio de Janeiro, RJ. Integra o ministério Charles Simeon Trust no Brasil e é docente nos seminários Martin Bucer (SP) e SETECEB (Anápolis) e na Faculdade Presbiteriana Mackenzie-Rio. Bacharel em Letras (UFRJ), em Filosofia (CETAI) e em Teologia (Filadélfia). Mestre em Ciência da Literatura (UFRJ), Doutor em Ministério (RTS/CPAJ) e Doutorando em Letras Clássicas (Estudos Interdisciplinares da Antiguidade, UFRJ). Casado há 30 anos com Roberta, é pai de Gabriel e Rafaela.

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