Através dos recortes da história de peregrinação do homem no mundo, podemos perceber que nada parece ser mais desassossegador para o coração humano como as incertezas da vida. Não saber o que o dia de amanhã reserva é algo que no mínimo desperta uma certa inquietação. O que comer? O que beber? O que vestir? Como me sustentar financeiramente? O que será do futuro de meus filhos? Essas são algumas das perguntas latentes projetadas em nossas mentes ansiosas por respostas acerca do porvir. E, até aqueles que estavam mais próximos de Jesus demonstravam certa preocupação no tocante ao futuro, o que pode ser inferido mediante o conselho dado por Jesus em Mateus 6:25: “Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto a vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?”.
O fato é que a vida é formada por um dinamismo espantoso e nós, seres limitados e frágeis, tememos ao que nos está reservado ao amanhecer. O filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso já dizia que “um mesmo homem não pode entrar no rio duas vezes, primeiro porque as águas do rio já não são as mesmas nem o homem”. E, essas mudanças constantes por vezes nos direcionam a tempos tempestuosos e desafiadores. Mas a pergunta é será que essas constantes mudanças e desafios que enfrentamos estão sob o controle de Deus? Ainda, será que há um propósito a ser revelado em meio às tribulações? A resposta é sim para ambos os questionamentos!
Irmãos, o Deus da bíblia é soberano e detém todo o controle do universo em suas mãos e nada lhe escapa aos olhos! Para o nosso bem, para a sua glória e cumprimento de seus santos desígnios, Deus governa com soberania os vendavais desta vida terrena. Caro amigo, até mesmo através dos ventos impetuosos da vida, Deus demonstra seu amor por nós, nos encoraja a encontrar o caminho correto, nos faz pessoas mais maduras e nos molda à imagem de Cristo!
Em Deuteronômio 8:2-5 está escrito: “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus Pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem. Nunca se envelheceu a tua roupa sobre ti, nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos. Sabes, pois, no teu coração que, como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor teu Deus”.
O trecho acima pode ser entendido como um paralelo à vida do homem em uma peregrinação em um estado passageiro de tribulações. Os tempos difíceis não devem nos desanimar, pois não fomos lançados na terra à deriva. Antes, temos um Deus Pai que cuida de nós, um Intercessor que roga por nós, o Deus Filho, e o Consolador que nunca nos abandona, o Deus Espírito Santo. Somos ordenados a crer que Deus sabe o que está fazendo, pois Ele não dormita nem vacila na execução de seus planos. Afinal, podemos contar com a certeza de que venceremos este mundo, pois Cristo o venceu primeiro: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.33).
No trecho bíblico que descreve a peregrinação do povo de Deus pelo deserto (Deuteronômio 8:2-5), o Senhor se revela de maneira extraordinária aos seus filhos e demonstra deter o controle de todas as circunstâncias em todo o tempo mesmo em meio a um lugar considerado inóspito. O Altíssimo os experimentou durante quarenta anos através de humilhações e provações para mostrar-lhes o que havia em seus corações desconhecidos por eles mesmos, mas conhecidos por Aquele que os conheceu antes que fossem formados nas madres de suas mães. Deus demonstrava aos homens e mulheres do deserto como estava o estado interior deles em relação ao Criador. O amoroso e eterno Senhor deu-lhes a oportunidade de que conhecessem a si mesmos. Sua falta de integridade, infidelidade, inconstância, hipocrisia, perversidade e desobediência em relação à Santa Pessoa do Criador foram reveladas em meio à terra seca.
Mesmo assim, Jeová não os abandonou, pois alimentou os israelitas com uma comida jamais provada por suas gerações, o maná, o pão dado pelo próprio Deus, para aprenderem a depender do provedor e não da provisão em si. O Senhor na figura de um Pai cuidou do seu povo em cada detalhe, da saúde às vestes, nada lhes faltava. O Pai os corrigiu e os castigou quando assim foi necessário, dando-lhes uma oportunidade ímpar de caminharem em sua santa presença de dia e de noite rumo à terra prometida. Aqueles que não se deixaram levar pelas angustiantes incertezas do porvir, pelos pensamentos e ideias confusas, pelo estremecer da fé, pelo passar dos anos, mas, agarrando-se na promessa, creram no Senhor e obedeceram aos seus santos mandamentos, herdaram a maravilhosa terra prometida que manava leite e mel, como podemos ver em Êxodo 33:2-3: “Enviarei adiante de ti um Anjo e expulsarei os cananeus, os amorreus, os hititas, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Sobe para uma terra que mana leite e mel”.
Já aos que se insubordinaram à vontade de Deus e tornaram a cobiçar os manjares egípcios mesmo sob o preço de escravidão, insultando a santa misericórdia do Pai através de murmurações e práticas idólatras, provaram do fruto de suas próprias maldades quando rejeitados pelo Criador, pois Deus é aquele que esquadrinha o coração e prova os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações (Jeremias 17:10).
Então, Moisés descreve acerca da fala de Yahweh a despeito daqueles peregrinos de duro coração: “Eu, contudo, não subirei no meio de ti, porquanto és povo insubordinável, de dura cerviz; e, caso seguisse convosco, Eu vos poderia exterminar ao longo do caminho!” (Êxodo 33:3). Com certeza, querido irmão, ter de lidar com todas os altos e baixos que surgem ao longo de nossa peregrinação terrena não é lá uma tarefa tão fácil! Não é verdade? Você concorda também que momentos que provam a fé acabam por desconstruir aquela visão triunfalista torcida de que o cristão é um super herói que não chora, que não teme, que não sente dor, que está insuscetível a doenças incuráveis, que não pode ter crises existenciais ou crises psicológicas, crises financeiras, crises no casamento?
Recentemente, lendo sobre a vida de um grande pregador reformado chamado Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), descobri que apesar de colecionar milhares de sermões, ser um pastor com reputação ilibada e dedicar sua vida integralmente à obra de Deus, Spurgeon lutava contra a depressão, sendo assolado constantemente contra pensamentos opressivos com os quais batalhava incessantemente através da oração. O príncipe dos pregadores, como era conhecido, diz: “Eu sei, pessoalmente, que não há nada no mundo que o corpo físico possa sofrer que se compare à desolação e à prostração da mente” (A Depressão de Spurgeon. Esperança realista em meio à angústia. Zack Eswine).
Ao me deparar com a história de alguém tão proeminente e exitoso em seu ministério tendo de enfrentar tais provações em sua mente, me fez refletir de como Deus não isenta seus filhos dos sofrimentos terrenos aos quais todos os seres humanos estão suscetíveis, mas sustenta com amor e revela seus propósitos aos que no Senhor creem e obedecem. Às vezes, em nossas mentes tão limitadas e frágeis, podemos nos deixar sugestionar por pensamentos cuja origem devemos desconfiar, tais como o porquê de termos de aprender algumas lições da vida com Deus em meio a tantas tribulações e desafios ou se Deus que é onisciente não teria um caminho menos doloroso para nos lapidar. Certamente, querido amigo, Deus sabe o que está fazendo! É o que devemos responder à nossa alma aflita por respostas imediatistas!
E, em meio a estes sombrios “porquês” que pairam por nossas mentes assustadas, relembrar histórias como a de C. H. Spurgeon que combatia o bom combate com fé e também com uma série de questionamentos, com dor, mas também acalentado pela luz do evangelho do Senhor Jesus Cristo até mesmo em meio às mais densas trevas que tentavam dominar a mente do piedoso pastor, é uma poderosa arma contra as ardis dúvidas acerca do probidade de Deus. Esse tipo de testemunho nos encoraja a confiar naquele que nos enviou pelo caminho que nos leva a terra prometida, confiando em seu caráter e soberania, pois, Deus disse a Josué: “Não te mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares”. (Josué 1:9)
Como um excelente exemplo para entendermos a soberania de Deus em meio aos desafios e tribulações, não poderia deixar de recordar da história de Jó que era um homem íntegro, reto e temente a Deus, desviava-se do mal e era zeloso na oferta de holocaustos ao Senhor (Jó 1:1-5). A bíblia descreve que esse homem de Deus era o mais rico de sua geração e também o mais piedoso e, Jó também era um homem casado e tinha dez filhos. Mas o fato de Jó ser o homem mais justo e temente a Deus da sua época não o isentou de ser alvo de um severo ataque por parte de satanás que ao ter se apresentado diante do Altíssimo sugestionou que seu servo fiel só o adorava pelas bênçãos que proporcionara Deus a Jó, como se o homem só pudesse amar ao Senhor em uma relação de barganha e não pura e simplesmente por quem Jeová é.
É o que descreve a bíblia em Jó 1:9-11: “Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura teme Jó a Deus debalde? Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado na terra. Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face”.
Assim, Deus em sua eterna onisciência, sabedoria, seu grande poder e domínio, permite que seu justo servo seja exposto a mais dura batalha de sua vida, demonstrando que até sobre o mal o Senhor Altíssimo detém domínio para cumprir propósitos nas vidas de seus amados filhos. Então, uma série de eventos catastróficos acometem a vida do fiel servo de Deus, em que Jó perde seus bens, seus servos, seus dez filhos feridos de morte e a sua própria saúde é atacada por meio de tumores em sua pele. Contudo, e mesmo em meio ao pior pesadelo que ele poderia enfrentar, a bíblia diz: “Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor. Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma” (Jó 1:20-22)
Ao passar pelo trecho mais estreito e espinhoso de seu caminho pela vida terrena, Jó no final de seu livro expressa uma visão que era desconhecida por parte do autor, mas que agora apresenta uma expressão íntima e bela acerca da soberania de Deus Jeová: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia” (Jó 42:1-3).
Perceba, querido irmão, que o propósito não é fazer com que passemos por essa terra isentos de sentimos de dor ou sem aflições, como em uma teologia triunfalista, mas passando por tubulações, sendo fiéis, seremos aperfeiçoados à semelhança de Cristo e por meio de sua graça usufruiremos do eterno gozo da presença do Deus Altíssimo.
Somos exortados, através da Bíblia, a nos lembrarmos e nos alegrarmos nas promessas de Deus nos momentos mais desafiadores da vida, pois nosso amoroso Pai usará os desafios como uma ferramenta para derramar sua graça e misericórdia de maneira abundante.
Por fim, lembrem-se dos aconselhamentos de Paulo, o apóstolo de Cristo, que diz para recorrermos a Deus em oração e confiarmos na Sua palavra, conforme:
- Tessalonicenses: “Orai sem cessar” (1 Tessalonicenses 5:17);
- 2 Coríntios, capítulo 12, versos 9 e 10: “Mas Ele me disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte”;
- Romanos 8:28: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”.
Animemo-nos e tenhamos fé!
Belíssima reflexão. No contexto geral, os parágrafos iniciais são atualmente uma das maiores preocupações de grande parte da humanidade. Infelizmente, “materializamos” demais o poder de Deus colocando em xeque a sua bondade, misericórdia e providência. Em outras traduções bíblicas, MT 6:26 nos diz:
“26. Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?”
Portanto, toda as nossas preocupações tem um resquício de falta de fé que é natural do ser humano (entendam que natural não significa ser normal, correto,etc), dois exemplos bíblicos de falta de fé foram as experiências de Pedro ao tentar caminhar sobre as águas (MT4:22-36), e Tomé, após a ressurreição de Jesus (JO 20:24-27). Resumindo, as incertezas que nos assolam, são partes das nossas imperfeições como seres humanos e a medida em que nos abrimos ao exercício da fé, somos moldados por Deus e como consequências experimentamos a graça de sua misericórdia, o amor e a providência.
Lucas, que Deus abençoe sempre você, sua família e sua casa e suscite em seu coração novas reflexões e partilha com seus irmãos em Cristo.