Somente a Escritura
“Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (João 5.24, 17.17)
Em nossos dias estamos diante de padrões diferentes daqueles da Escritura, e a sociedade que nos cerca, que insiste em se chamar de laica, é, em verdade, uma sociedade de oposição a praticamente tudo que a Escritura afirma como sendo verdadeiro. Como filhos de Deus, particularmente herdeiros da Reforma, precisamos trabalhar nossos corações e mentes a partir do fato de que somente a Escritura nos traz a absoluta verdade de Deus e que tudo de que precisamos para a nossa vida está contida de forma expressa ou de imediata interpretação nas páginas da Bíblia, como aprendemos em nossos símbolos de fé: “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser observadas.”1 Dessa forma, cabe-nos olhar em direção à Escritura Sagrada sob dois aspectos imediatos: ela é a verdade expressa de Deus revelada por meio da inspiração aos autores sagrados e somente a esse texto devemos seguir como regra de fé e prática, como lemos em que sob “o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática” 2, ao que segue a relação dos 66 livros canônicos do Antigo e do Novo Testamento conforme reconhecidos pela tradição reformada e evangélica.
Mas como poderemos compreender e rejeitar todas as oposições que nos trazem de fora do ambiente da comunidade de fé, aquelas que minimizam ou eliminam o valor e a veracidade da Escritura? Para isso, é necessário que compreendamos que a Escritura é a nossa maior autoridade, e que somente as coisas ali contidas serão nosso guia seguro até o final de nossas vidas. É esse o contexto em que afirmamos que a Escritura Sagrada é a nossa única regra de fé e prática. Numa das edições da Revista Ultimato de 2013, lemos que “O ato de crer envolve regras; ele sempre nos coloca, por exemplo, em uma relação de dependência emocional em relação àquilo no que cremos, de modo que quando as expectativas de confiança são frustradas, a sensação de desamparo é profunda.”3 E completa seu pensamento dizendo que
As Escrituras Cristãs são a “regra de fé e prática” para os Cristãos protestantes porque literalmente regulam o modo como a nossa confiança em Deus deve se expressar. Os cristãos entendem que a revelação de Deus deve governar o nosso modo de se aproximar dele por uma razão óbvia: nossa confiança em qualquer pessoa (e isso inclui a pessoa de Deus) se fundamenta naquilo que conhecemos sobre essa pessoa, e na palavra que ela nos dá. A confiança é uma resposta que ocorre dentro de um ato de comunicação pessoal, no qual o que ouvimos do outro passa a representar de forma suficiente tudo aquilo que não sabemos mas não temos como verificar. A face e a voz do outro se tornam para nós a evidência suficiente do que precisamos saber.4
Com isso queremos dizer que não há meios alternativos para chegarmos à verdade: somente a Bíblia expressa tudo que precisamos para nossa caminhada. De outra forma, ficaremos sujeitos ao sabor das normas culturais e sociais, das tradições de conduta pública e até de performances de moralidade que podem se chocar com aquilo que nosso Deus deseja para nós como o melhor caminho para a nossa jornada com ele. Imaginemos como seriam nossos julgamentos diante de novidades, como questões de gênero, aborto, eutanásia, e tantas outras questões complexas que dia a dia surgem diante de nós: se nos basearmos somente na Escritura, nossa postura será aquela que ali aprendemos. Caso contrário, se a virmos apenas como mais um acessório em nossas tomadas de decisão, provavelmente nós seremos conduzidos pelas instabilidades do pensamento humano, sendo facilmente levados por qualquer vento de doutrina. Foi exatamente para nos educar na verdade e nos resguardar do mundo que Deus concedeu os ministérios docentes à Igreja, como disse Paulo à Igreja de Éfeso.5 Aliás, muito tempo antes, o profeta Isaías já nos advertia do perigo que enfrentamos ao acharmos que nossos caminhos e nossa justiça nos bastam: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam.” (Is 64.6).