A integridade nossa de cada dia

Estudamos um tema muito interessante alguns anos atrás durante nossos estudos de quarta-feira. Estivemos apoiados num livro intitulado “A crise da integridade” (1989). O autor é Warren Wiersbe, e, embora antigo, o texto e seus pressupostos são assustadoramente atuais. 

O autor começa dizendo, em sua introdução, que o livro incomodará muita gente. E isso é comprovado durante a leitura, pois nosso coração é confrontado com a dura realidade de sermos falhos e pecadores, mesmo querendo servir integralmente a Deus. Mas nossos estudos não ficaram no incômodo: eles apontaram para a necessidade de mudanças necessárias na estrutura da igreja visível, a começar dos filhos de Deus. As críticas são sinceras e verdadeiras, na forma de denúncia que remete ao conserto com Deus, e certamente saímos de cada estudo empolgados com a possibilidade de melhorarmos nossa jornada espiritual. Wiersbe termina seu prefácio dizendo: “não espero que o leitor concorde com tudo que escrevi. Espero que ele incline a cabeça e pergunte: Senhor, sou eu?”  

Começamos pelo opróbrio, que é o título do primeiro capítulo. Nele estudamos questões relacionadas à ética e como nos comportamos diante de fatos que conduzem à vergonha diante de Deus e da própria comunidade. O mundo caído parece não sentir vergonha, o que é natural para quem não tem qualquer forma de discernimento do certo ou errado diante da justiça de Deus. Mas isso não deveria ocorrer – como ocorre –  no seio da igreja, que recebeu do Senhor todas as informações a respeito da visão de mundo que temos que ter e como nos relacionarmos com as coisas que nos cercam nesta vida. Isso gera o opróbrio, a vergonha diante do Criador. 

Depois falamos da regressão, que é seu título. A intenção aqui é mostrar claramente como há uma relação de enorme semelhança entre o povo de Deus de hoje e o do AT. Nossa tendência é olhar para Israel e criticar profundamente sua instabilidade e sua constante capacidade de desobedecer e produzir ira no coração de um Deus santo com suas práticas idolátricas e a não observância das determinações de Deus para o povo escolhido. É aí que temos a triste comparação de sermos a mesma coisa, com uma igreja corrompida pelos gestos da instabilidade, da idolatria e do afastamento dos princípios mais fundamentais da relação com nosso Deus, que é santo, abomina o pecado e nos ordena que vivamos em santidade para ele. “Regressão” tem a ver com isso: como a igreja regrediu ao estágio anterior à manifestação do Filho de Deus ao invés de se apropriar dessa revelação para ter uma realidade que glorificasse a Deus de modo integral. 

Avançamos para a rebelião, palavra que intitula o terceiro capítulo. Aqui lemos várias passagens do texto do profeta Jeremias. Ele e Neemias enfrentaram situações bastante adversas por causa da situação espiritual do povo de Deus em seu tempo. As palavras dirigidas a Israel naqueles tempos continuam dilacerando a igreja de hoje ao expor os graves problemas que nos cercam como corpo. A semelhança é tamanha que, embora saibamos da distância do tempo e da cultura, ficamos chocados com a proximidade daquilo que a igreja cristã tem precisado enfrentar ao longo de sua história: parece até que estamos repetindo tudo. Somos da mesma espécie e temos a mesma fragilidade de nossos irmãos do passado. A corrupção do sacerdócio naqueles tempos tem uma incrível semelhança com a corrupção das lideranças e dos púlpitos de nossos dias, o que nos gera profunda tristeza, mas alerta nossas percepções para estarmos sempre atentos e investigativos quanto aos ensinos e à prática de vida daqueles que nos conduzem espiritualmente. A estrutura sacerdotal, assim como a ministerial em nossos dias, pode ser usada indevidamente para deixar o povo sem instrução na sã doutrina ou para dominar o povo com segundas intenções: em ambas as situações o povo de Deus estará sendo penalizado e subnutrido. Fazemos uma comparação óbvia: a mesma relação de cuidados deve ser preservada nos grupos menores, como família, por exemplo.  

Tratamos de temas como revisão, responsabilidade, censura, reconstrução, alívio, realidade, riquezas e recuperação. Ao término do livro falamos sobre reavivamento, que é o título final. Não é possível esperar por um autêntico reavivamento sem que entendamos com clareza a nossa situação e nos arrependamos honestamente diante de Deus de nossas práticas que entristecem seu coração. O livro já é antigo, mas extremamente atual, pois esse assunto haverá de acompanhar a igreja como um espinho na carne até o Dia do Senhor. 

Encerro com a transcrição de um trecho do livro: “João Batista não fazia concessões, não era uma celebridade, nem procurava agradar à multidão. O falso profeta pergunta: ‘A minha mensagem é popular?’ enquanto o profeta de Deus indaga: ‘A minha mensagem é verdadeira?’ Não se pode agradar às multidões, então por que tentar? (…) O pregador que procura agradar à multidão esqueceu-se das palavras de Thomas à Kempis: ‘A glória de homens dignos está em sua consciência e não na boca de homens.’” 

 
Seu pastor, Rev. Joel Theodoro 

Joel Theodoro

É pastor efetivo da Ig. Presbiteriana do Bairro Imperial, no Rio de Janeiro, RJ. Integra o ministério Charles Simeon Trust no Brasil e é docente nos seminários Martin Bucer (SP) e SETECEB (Anápolis) e na Faculdade Presbiteriana Mackenzie-Rio. Bacharel em Letras (UFRJ), em Filosofia (CETAI) e em Teologia (Filadélfia). Mestre em Ciência da Literatura (UFRJ), Doutor em Ministério (RTS/CPAJ) e Doutorando em Letras Clássicas (Estudos Interdisciplinares da Antiguidade, UFRJ). Casado há 30 anos com Roberta, é pai de Gabriel e Rafaela.

teste