A vida não é fácil, não é cor de rosa, não é como gostaríamos que fosse. Até porque em 7,5 bilhões de pessoas, a vida satisfatória teria 7,5 bilhões de nuanças, o que tornaria impossível ter um mundo que agradasse a todos. Os últimos anos em nosso Brasil têm sido muito difíceis, e nossos últimos dias têm apresentado um fator intensificador das dificuldades pelas quais todos estamos passando. Nosso desejo aqui não é fazer juízo de valor a respeito das limitações impostas por causa da paralização dos caminhoneiros, mas refletir um pouco sobre as dificuldades às quais somos submetidos ao longo de nossa vida comum.
O livro de Provérbios nos fala algo extremamente interessante para os dias que atravessamos: “Se você vacila no dia da dificuldade, como será limitada a sua força!” (Pv 24.10, NVI). Obviamente o sábio está falando com filhos de Deus ao reunir seus provérbios num livro como essa: portanto, o alvo das lembranças, conselhos e advertências é cada um de nós mesmos, filhos de Deus. Concluo a partir da Escritura que as fraquezas (termo utilizado na tradução da Revista e Atualizada), as dificuldades, os desafios, as tribulações, os sofrimentos: tudo faz parte da vida e teremos que enfrentar tudo isso, com maior ou menor intensidade ao longo de nossa existência terrena. O que faz a diferença não é a pergunta “vou passar por essas coisas todas?”, mas a outra, “como vou passar por essas coisas todas?” As pessoas naturais, sem Deus em suas vidas, vivem desnaturadas em termos de esperança mais profunda. Todas as suas fichas são depositadas nas deliberações e soluções apresentadas pelo mundo, pela sociedade, pelas ideologias, pelos governos e por quaisquer instituições, o que, sabemos nós, termina sempre em alguma fonte de erro ou calamidade, pois não há uma só agremiação composta por seres humanos que seja desprovida de erros e contundências morais e éticas. Isso inclui a igreja local enquanto instituição: depositar a esperança apenas na instituição gerida por pessoas levará a decepções profundas, sempre.
Vacilar no dia da dificuldade nos dá ideia de instabilidade, de algo cambaleante. Isso nos remete a pessoas cujas certezas não são tão firmes, e quando as dificuldades aparecem, elas simplesmente claudicam diante dos fatos da vida, enquanto as pessoas firmes em suas posições estão mais aptas a vencerem as lutas diárias por causa de suas firmes convicções. Trazendo isso para o ambiente da fé cristã autêntica, temos que forçosamente nos lembrar de quem é o nosso Deus e quais as coisas a respeito das quais ele nos advertiu. Não somos pegos de surpresa na vida porque o nosso Deus, diferentemente das pretensas divindades dos demais cultos e religiões, não nos prometeu aquele mundo cor de rosa do começo de nossa conversa. E é daí que surge a nossa força: sabemos quem é o nosso Deus, pois ele tem uma relação de pessoalidade com seus filhos. Sabemos o que ele nos advertiu que ser a vida, porque ele revelou tudo a nós através de sua palavra. Sabemos o que devemos fazer e sentir, porque ele deixou as instruções sobre nosso interior. Sabemos também, porque ele anunciou como seria nosso futuro eterno. Com todas essas premissas sobre a mesa, o mais fraco dentre os filhos de Deus pode dizer com toda a voz de seus pulmões: “quando sou fraco é que sou forte” (2Co 12.10, NVI). E aqui surge uma diferença entre a fraqueza de Provérbios e a de 2 Coríntios. Precisamos ser fortes em nossas convicções e batalhar diariamente a partir das instruções de Deus para com os mandatos naturais (culturais, sociais, etc.) que ele nos legou em sua palavra, pois somos seres dotados de ordens naturais do Senhor. Por outro lado, ao nos enxergarmos como seres espirituais, temos a clara definição da Escritura de que, nesse âmbito, somos e precisamos ser reconhecidamente fracos no sentido de dependermos do Senhor para tudo e em todas as coisas.
Diante de tudo que nos envolve como cidadãos e como igreja de Cristo no Brasil, portanto, precisamos:
1) ser absolutamente fortes para suportarmos as adversidades sociais que nos são impostas, tendo responsabilidade exemplar ao escolhermos os próximos parlamentares e governantes, não sucumbindo diante de ideologias e convites que sabidamente são opositores a Deus e sua Palavra, tendo também um exercício de vida acadêmica e profissional exemplar a tal ponto que seja um verdadeiro testemunho público de alguém transformado por Deus;
2) ser completamente fracos para entendermos nosso papel diante de Deus e do próximo, uma vez que a nossa relação de espiritualidade e de abnegação dependem de haver transformação real de coração e vida integral, o que somente é possível pela regeneração operada exclusivamente pelo Pai, na obra do Filho, pela ação direta do Espírito Santo. Entender a fraqueza diante de Deus nos eleva à categoria de alguém realmente forte. Quem é forte espiritualmente em Deus (ou seja, o fraco) será capacitado a ser forte na vida natural, pois sabemos que, ao final de tudo, o que estará em nossos lábios será o cantar do salmista que diz “Como é feliz o povo que aprendeu a aclamar-te, Senhor, e que anda na luz da tua presença! Sem cessar exultam no teu nome, e alegram-se na tua retidão, pois tu és a nossa glória e a nossa força, e pelo teu favor exaltas a nossa força. Sim, Senhor, tu és o nosso escudo, ó Santo de Israel, tu és o nosso rei.” (Sl 89:15-18, NVI)
Seu pastor, Rev. Joel Theodoro