O profeta Isaías pregava por Israel e por Judá num tempo em que a mão de Deus pesava forte contra o povo que tanto já havia aborrecido o Senhor com seus pecados. Conforme mais se aproximava do ano 700 aC, o orgulhoso povo de Israel via aumentar cada vez mais o poder do Império Assírio, mas, enquanto isso ocorria e o povo se tornava temeroso, Isaías continuava falando a um povo “cego, surdo e insensível” às coisas de Deus (cf. 6.9–10).
Quando as tribos ao norte foram deportadas, houve uma grave crise de fé e espiritualidade, porque as demais pessoas começaram a questionar a possibilidade de Deus as ter finalmente abandonado à própria sorte. Isso se tornou uma espécie de paradoxo nacional, em que um profundo sentimento de tristeza, de angústia e de desprezo passou a andar lado a lado com as promessas de um tempo de alegria, esperança renovada e regozijo.
Assim era o tempo e o ânimo entre o povo quando chegamos a Isaías, capítulo 9. As pessoas andavam ansiosas e angustiadas, sabendo que muita dor as aguardava em seus dias próximos: os assírios chegariam em breve às portas das maiores e das menores cidades, conquistarão as vilas, tomarão as plantações, expulsarão as pessoas de suas casas e as tratarão como verdadeiros animais. Fome, desterro, escravidão, mortes, estupros, banimentos, miséria, perda e solidão: isso esperava à frente da história de um povo orgulhoso, porém totalmente afastado de Deus e de sua Lei.
Para aqueles hebreus somente restava uma esperança, e ela precisava ser renovada: o consolo das promessas de um futuro perfeito. Não apenas um futuro melhor, porém perfeito. O que conheciam de melhor estava prestes a desaparecer, mas a perfeição prometida jamais teria fim. E nós devemos viver da mesma forma. O que já tivemos de melhor em nossa vida pode ter passado, pode ter se transformado e se tornado algo perigoso e entristecedor. Para os hebreus, a promessa do nascimento de Cristo parecia algo distante e precisava ser renovada de tempos em tempos; para nós também: a segunda vinda do Senhor parece demorar muito tempo, e de tempos em tempos precisamos renovar em nós a bendita esperança de sua vinda.
Isaías 9.2–7 é uma verdadeira confissão de fé no Deus Todo-poderoso. A lembrança do que Deus já tinha feito por Israel anima o coração enfraquecido e relembra as bênçãos. O passado realizado por Deus renova as esperanças e faz apontar para o futuro de glória e paz perfeitas, não as que se conhecem fugazmente na terra, mas as que serão experimentadas diante do próprio Deus de forma pessoa, eterna e perfeita. Segundo o profeta, Deus cumpriria a promessa feita a Davi e daria a Israel um outro líder, melhor e mais poderoso, que traria redenção final ao povo de Deus. Este novo rei traria salvação a um povo sem esperança e os libertaria de seus inimigos, e Israel viveria para sempre em paz sob a liderança deste novo Davi.
Surge a pergunta, então: Como podemos ter certeza de que a passagem fala apenas de Davi e traz a esperança de um outro grande rei nacional ou se fala de Jesus Cristo, o Messias prometido que ainda estava por vir nos tempos de Isaías? Temos essa certeza porque, pouco mais de 700 anos após Isaías, o trecho de Mateus 4.12-16 diz explicitamente “para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías” (14), o evangelho garante a relação ao narrar a conexão de Jesus com esses fatos proféticos.
João 1.1-5 diz que “1No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2Ele estava no princípio com Deus. 3Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. 4A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. 5A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.” Ao chegarmos a João 8.12-20, vemos novamente Jesus afirmando: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (12), enquanto afirmava a unidade com o Pai que o havia enviado. Esses textos demonstram com muita clareza que Jesus é a luz que veio tirar o homem das trevas, colocando-os a salvo na própria luz de Deus, ou seja, nele mesmo. Esse é o sentido do Natal do Senhor: a salvação prometida por um Deus santo aos homens pecadores que, uma vez regenerados, tornam-se filhos de Deus (cf. João 1.12). E, então, virá paz sem fim!