Qualquer pessoa com alguma convivência com o texto bíblico sabe que Jacó era um homem complicado. Era trapaceiro e mentiroso, dentre outras coisas, mas era um sujeito sobre o qual Deus depositou sua soberana escolha. A tal ponto isso se confirma na Escritura que o apóstolo Paulo diz em Romanos 9.13: “Como está escrito: ‘Amei Jacó, mas rejeitei Esaú’.” Essa referência de Paulo faz menção ao texto do profeta Malaquias, capítulo 1, versículos 2 e 3 (trechos): “’Não era Esaú irmão de Jacó?’, declara o Senhor. ‘Todavia eu amei Jacó mas rejeitei Esaú.’” O mais dramático é olharmos para o futuro de Jacó, com seu perfil enganador e egoísta e ver que ele está na base da família espiritual em que nos encontramos, a família de Deus. Como o segundo dos patriarcas do povo de Israel (que, aliás, tem o nome de Israel porque Jacó teve seu nome mudado como lemos em Gênesis 32.28), Jacó tem tudo a ver conosco: éramos imperfeitos, egoístas, enganadores, mentirosos e muitas outras coisas, mas um dia fomos alcançados pelo amor perfeito de Deus, em Cristo, transformando-nos de meras criaturas viventes em família de Deus, razão pela qual o mesmo apóstolo Paulo nos diz “vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2.19).
Com todo esse alinhavo com respeito à família de Deus, vamos voltar nosso olhar para a família que temos nesta terra. Alguns de nós podem ter famílias numerosas, alegres, cheias de recursos e com muita educação, ao passo que outros terão realidades muito diferentes dessas, enfrentando sérias lutas a cada dia da vida. Como dizem, matando um leão por dia… Mas o que temos é a realidade maior que nos conforta, de que Deus nos tomou para si, enxertou nossa vida em Cristo, trata de nós pelo Espírito Santo e nos compele a, de certa forma e dentro de nossas limitações, reproduzir com nossos entes queridos aquilo que Ele próprio fez conosco. É por isso que a Escritura nos mostra que, antes de exortar a respeito de cônjuges e filhos, devemos ser cheios do Espírito Santo. Essa leitura está em Efésios 5.15-6.4. “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios”, começa dizendo Paulo. Ora, quem dentre nós não deseja a sabedoria que procede de Deus? Mas isso parece não ser algo automático, mas cultivado na medida em que somos cheios do Espírito Santo. Vejamos que ele diz no final do verso 18 que devemos nos deixar “encher pelo Espírito” da seguinte maneira: louvando ao Senhor de coração (v. 19), dando graças constantemente (v. 20) e nos sujeitando uns aos outros no temor de Cristo (v. 21).
É nesse exato momento que Paulo começa a falar aos cônjuges. Em primeiro lugar, às mulheres, quando ele diz “sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor” (v. 22): o verbo grego utilizado para traduzir a palavra em português “sujeitar-se” é realmente o mesmo do versículo 21. Em outras versões pode ser que encontremos “sujeitai-vos” no v. 21 e “sede submissas” no v. 22. No texto original é igual em ambos os versos. Logo em seguida Paulo se dirige aos homens e lhes diz para que “amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela” (v. 25), numa clara alusão à entrega em amor sacrificial de Cristo por nós, que, como vimos no início, somos a família de Deus. Paulo encerra essa exortação aos maridos dizendo que se um homem ama sua esposa, consegue amar a si mesmo. Logo, quem não ama a esposa… Finalmente Paulo fala aos filhos, já no início do capítulo 6, onde Paulo frisa aos filhos que “obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo”. Ora, em tempos em que presenciamos tanta injustiça, talvez uma das mais hediondas diante de Deus seria a desobediência dos filhos aos pais, uma vez que, aos olhos de Deus, isso não seria justo.
O interessante é que a família é estruturada sobre a seguinte linha de pensamento: 1) Assim como se deu com Jacó, não importa o que passou, mas importa o fato de ter sido chamado por Deus e ter se tornado parte da família de Deus. 2) Quem é chamado por Deus e tem um encontro com ele passa necessariamente por transformações interiores e visíveis também, como Jacó, que se tornou Israel. 3) Se queremos uma família para a glória de Deus, precisamos ser cheios do Espírito Santo, o que seremos se conseguirmos louvar ao Senhor de todo nosso coração (haja o que houver), se tivermos um coração realmente grato a Deus por todos os seus grandes feitos e se nos sujeitarmos uns aos outros. Aqui, como a natureza humana é complicada, Paulo diz que precisamos fazer isso por temor a Cristo. Ou seja, não precisa gostar: basta obedecer… Mas, claro, em amor é sempre mais agradável. Ora, mulheres, homens e filhos crentes dessa maneira conseguem obedecer ao que Deus manda através de Paulo: esse é o ideal da família cristã, bem diferente e oposto ao que o mundo diz que deveria ser a família.
Deus nos convida para uma vida de fartura espiritual e alegria temporal em família. Precisamos nos conscientizar de que, se somos verdadeiramente cristãos, a medida da Palavra de Deus é infinitamente mais importante para nós que aquilo que o mundo, a carne e o inimigo nos dizem sobre a família. Afinal de contas, a nossa família está sob a graça de Deus ou não? Vamos viver segundo Ele, e para a glória dele mesmo.
Seu pastor,
Rev. Joel Theodoro